Um rio chamado Mulher
Andei por rios misteriosos que só Mãe-d’água sabe contar, dizer de sua nascente, de seus afluentes e quanta gente vêm nele nadar, falar da língua cabocla, que mata a sede em seu arriar.
Mulher ribeirinha, que sabe da água de sua colher, que lava, que toma, que banha, que molha o filho e a roupa com tanto cuidado pra não machucar.
Ó rio, o meu Amazonas sou grata por te conhecer. De águas tão doces, como se em ti contivesse toda a feminidade de uma mulher, vibrante, esposa, mãe, companheira, madura e jovem, com sua força e formosura transformam em puro todo o ar, que de dia trás a brisa e de noite o luar, esse rio que parece demais com uma senhora, que enfeita tudo por onde passa, levando graça e povoando seus braços com largos abraços e beijos sem fim. Um rio feminino que enche de amores onde quer que vá, são tantas histórias de muitas donzelas em seu navegar.
Ó rio juventude de minha alma, companhia de meus pensamentos e lamentos.
Ó rio, o grande gigante, que parece que nunca há de nos deixar.
Soube triste noticia, que toda essa tua infinitude um dia há de acabar. Que pena!
Não quer os meus olhos vê-lo penar.
Será culpa minha que ando neste imenso rio-mar?
Ribeirinha, talvez não
Será de Yara mãe,
Acho que não,
Da índia lá de baixo?
Acho que não,
Do povo da cidade?
Ou quem sabe de todos nós?
Mais possível.
Vamos cuidar desta água como se cuida de uma mulher, com carinho, respeito e humor. Usar com sabedoria essa água toda, tal como se cria um filho, com responsabilidade e compromisso, pois todos somos filhos da água, do planeta mais água que há e principalmente porque somos gente, filhos de uma mulher.
Dúlcia Guajarina
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